Yung Buda, Duzz, GUXTA e mais: a união entre o trap com os eSports
A música em geral vem ganhando espaço no eSports, mas o trap chega com ainda mais força nos jogos competitivos
Conteúdo original de Siouxsie Rigueiras para a Betway Inside
Quem assistiu e acompanhou as cerimônias de eSports dos últimos anos sabe a força que o competitivo tem no Brasil e no mundo em diversos segmentos. Com seu boom na época das lan houses, os torneios de videogame vieram para ficar, unindo a competição com o amor inabalável do público pelos jogos e abrindo caminho para outras formas de expressão – como a música.
Mas, para entender essa ligação, precisamos voltar no tempo, e não é pouco. Desde a época da criação dos games, a música foi um ponto muito importante para o desenvolvimento do segmento, fazendo o momento vivido digitalmente ser muito mais imersivo e podendo até mudar totalmente a experiência do player.
O SpaceWar pode ser considerado o precursor dos eSports, graças a um campeonato que aconteceu lá em outubro de 1972, na “Olimpíada Intergaláctica em SpaceWar”, na Universidade de Stanford. Cerca de um mês depois, um dos primeiros games com som apareceu: Pong. É claro que a tecnologia da época não permitia que canções fossem reproduzidas nos antigos consoles, mas foi o começo de tudo o que conhecemos hoje.
Essa relação foi se consolidando ao longo das décadas seguintes. Todo mundo que jogou no PlayStation 1 e 2, por exemplo, conhece as vinhetas da Sony e recorda os sons dos consoles ligando com certa nostalgia. Ou, se você é fã de Pokémon, com certeza consegue distinguir as principais canções de uma das maiores franquias de jogos eletrônicos da história.
Partindo do pressuposto de que quem está imerso neste mundo possui uma forte relação com melodias, fica fácil entender o sucesso inabalável do primeiro Gran Turismo. Ao ser lançado, em 1997, o game conquistou o público com a trilha sonora original feita pelo japonês Masahiro Andoh, além de contar com faixas de David Bowie, Garbage, Blur e Placebo, que podiam ser escolhidas enquanto você competia dentro do seu carro em alta velocidade. Em 1999, chegou o Gran Turismo 2, com músicas de Moby, Stone Temple Pilots, Hole e The Cardigans, marcando na memória de muitos dirigir, por exemplo, ao som de “My Favourite Game”. Inclusive, a canção – que ficou em 16º lugar no top de “Modern Rock Tracks” da Billboard em fevereiro de 1999 – tem um clipe em que a vocalista corre com uma pedra no acelerador em uma estrada. Muitos se lembram também de fazer drifts ao som do remix de Riders On The Storm de Snoopy Dog com o The Doors em 2004, no Need For Speed Underground 2.
Posteriormente, GTA San Andreas possibilitou que os jogadores ouvissem à rádio enquanto dirigiam os carros do game, ou seja, a música sempre esteve ali. No ano seguinte, tivemos o primeiro e tão aclamado Guitar Hero para PlayStation 2, cujo sucesso estrondoso alimentou uma década de franquia, com o último título da série sendo lançado em 2015.
No esporte eletrônico, um dos maiores expoentes do sucesso do público gamer, não poderia ser diferente.
Grandes torneios e shows absurdos
Com a música consolidada nos jogos, chega o momento de inseri-la nos torneios. E a Riot Games foi precursora desse movimento. No CBLOL de 2014, houve apresentação ao vivo do tema de Vi e também de Jinx. Já na final do CBLOL de 2015, que aconteceu no AllianZ Parque, teve show da banda Pentakill e apresentações com participação dos próprios players de LoL em uma canção do campeão Draven. Além disso, contou com a reprodução do clipe de Amumu e abertura do cliente do jogo – com o Gnar na época – com direito a orquestra, banda e vocalista.
Em 2017, o The International (TI) – o maior campeonato de DOTA e, também, o torneio que tem a maior premiação dentro dos eSports até os dias atuais, sendo cerca de U$ 40 milhões de dólares apenas em 2021 – realizou sua abertura com o show de TheFatRat, que é praticamente um patrimônio das cerimônias de competições virtuais. Esse foi um torneio tão marcante, que é bem provável que muitos se lembrem tranquilamente da final – mas por causa da abertura. Depois disso, ficou fácil entender que o público gostava desse tipo de iniciativa e teve quem soube aproveitar a tendência da melhor forma: atendendo aos fãs da forma mais orgânica possível.
No LoL, a Riot criou uma grande expectativa para os lançamentos de campeões – que agora também ganham clipes musicais animados – e para as finais, agradando os jogadores do game cada vez mais nas aberturas dos torneios. Só no Brasil, os fãs presenciaram apresentações de artistas como Far From Alaska, Pedro Qualy e Emicida.
O boom de lançamento das skins dentro do jogo também ganhou espaço nas finais presenciais com palco dedicado e show de luzes inspirados nos temas Fliperama e Project. Com o passar do tempo, além do LoL ter suas próprias canções, os grupos musicais também começaram a surgir, indo além do Pentakill e dando mais força para a união dos dois mundos, bem como visibilidade a outras musicalidades.
E claro que as finais mundiais não poderiam ficar de fora da novidade: “K/DA” e “True Damage” fizeram aparições ao público apaixonado pelo universo de LoL, que expandia para além do mercado nichado de jogos, conquistando espaços cada vez maiores nas mídias tradicionais.
O CS não ficou atrás e teve grandes torneios da ESL que fizeram a alegria dos rushadores e campers de plantão. A comunidade aproveitou as apresentações ao vivo com banda, orquestra, mais de um palco e até mesmo com o DJ TheFatRat.
Um velho amigo dos players
Principalmente no Brasil, o público dos jogos de tiro sempre teve uma conexão mais forte com o rap, que se olharmos atentamente, tornou-se um velho amigo de uma comunidade que cresceu e se expandiu, até alcançar novos estilos musicais. Seguindo essa prerrogativa, o trap chegou para ficar – e para entender como ele tem relação direta com o rap e a galera que curte dar headshot, é fundamental saber o que é o trap, de fato.
Com a abertura de Emicida cantando “É só um joguinho” no CBLOL 2018, o gênero musical ficou mais próximo do universo gamer e sua comunidade. Pensando que o rap e trap caminham juntos, era questão de tempo para que um dos estilos mais ouvidos do mundo aparecesse em algum lugar. No ano seguinte, quem brilhou nas telas dos jogadores de Fortnite foi Travis Scott, com o lançamento do evento Astronomical, que viu cerca de 27 milhões de jogadores participando simultaneamente de uma experiência sem igual – uma das mais extraordinárias até então.
Ainda em 2019, o Free Fire conseguiu unir Mano Brown e MC Jottapê na Liga Brasileira de Free Fire. Mas é claro que boom do Frifas não acaba por aí: a final do mundial do game atingiu um pico de visualizações de 1,2 milhões de espectadores… Gigante!
Com o passar do tempo e a evolução dessa relação, a união entre o trap, o rap e os eSports ficou ainda maior. Confira a lista dos artistas que apostaram nesse cenário:
Em 2020, outra parceria marcante aconteceu: Yung Buda e Rincon Sapiência na final do Brasileirão de Rainbow Six Siege, contando uma história diferente das outras aparições. Em entrevista à Betway, o artista Yung Buda contou que os games sempre estiveram presentes no seu cotidiano. “Na minha adolescência até a minha vida adulta sempre joguei FPS, tais como o Counter Strike. Tem até outros jogos que não estão no cenário competitivo, mas marcaram bastante a minha trajetória, The Duel, Eurogunz, Perfect World, Combat Arms, e agora eu tenho jogado League of Legends”. Além disso, Yung Buda sempre esteve muito imerso em cultura pop e oriental. “Cresceu bastante também esse negócio de eSports, mas sempre foi uma coisa que eu gostei muito. Sempre tive muito contato, sempre tirei muita referência disso e foi uma parada natural”, ressalta o artista, que vai além da música. “A estética dos games também é algo que chama muito a minha atenção. Então, foi um processo natural estar sintetizando as paradas que a gente gosta dentro da nossa arte”, completa.
A canção do Rainbow Six Siege foi um projeto de uma pessoa que já conhecia a carreira musical do artista, que também fazia lives na Twitch. Na época, Rob – produtor da Ubisoft -, acreditou que seria interessante juntar os mundos e Yung Buda teve uma experiência positiva e muito diferente.
“Eu não tinha jogado o game. Eles me deram a chave, joguei, curti. Peguei uma ideia ali mais ou menos e a gente fez uma sessão de estúdio com o Rincon Sapiência e com o Samuel Ferrari também, que já fez algumas produções ali para música promocional do cenário competitivo com o Emicida e com o Brown”, finaliza o artista.
Tem diversidade!
Em 2021, outra estrela do trap retornou ao mundo dos eSports. O artista Duzz (que já tinha um histórico dentro da comunidade gamer) começou a fazer lives na Twitch com o novo FPS da Riot Games, o Valorant. Ao unificar o trap e os eSports, a MIBR resolveu investir na novidade e lançou um clipe musical com Duzz apresentando três novas line-ups da organização mais amada do Brasil.
O clipe “Contra Todos” foi aclamado pela comunidade, que entendeu mais do que claramente a mensagem que a MIBR queria passar: “Essa é para quem me ama e quem me odeia”. A gravação do musical contou com participação das equipes de CS:GO feminino e masculino, o time de Rainbow Six Siege e, claro, Duzz. Para bizinha, jogadora da MIBR, foi um anúncio muito diferente dos que já havia participado por conta de conquistar toda a torcida novamente e ser uma oportunidade de mostrar seu trabalho.
“Acredito que fez muito bem o anúncio da line e principalmente quando tem interação da line masculina com a feminina nitidamente. No meu ponto de vista isso agrega visibilidade para o feminino, já que o público, muitos que acompanham CS, não acompanham especificamente o cenário feminino. Então, essa mescla, acaba por fim, somando.”
Um ponto focal importante do lançamento foi a aparição dos treinadores de todos os times, outra profissão necessária e que muitas vezes é passa batida por muitos. Para o treinador Apoka, um dos mais conhecidos e respeitados internacionalmente dentro do jogo de tiro da Valve, foi uma iniciativa que o alegrou. “Sei que os grandes artistas do time são os jogadores, mas como viajamos juntos e passamos todos os momentos juntos é muito legal ser reconhecido como uma parte importante da equipe”, conta.
O pro player de CS:GO, boltz também achou a experiência bem interessante. “O processo inteiro da gravação do clipe e escutar a música pela primeira vez foi algo bem bacana” conta o jogador.
O futuro?
O trap tem mostrado sua força nos últimos tempos, principalmente quando falamos de liderança em plataformas de streaming e consumo musical da geração Z. Pensando que a chegada do estilo em solo brasileiro tem crescido cada vez mais e que a geração atual esteja atingindo a maioridade e escolhendo efetivamente o que consumir e no que gastar, fica fácil entender que o trap pode, sim, ser o futuro.
A MIBR inovou ao convidar Duzz para fazer uma música, enquanto a Ubisoft fez um ótimo trabalho ao entender que o público ficaria animado com um investimento relacionado ao trap e, por isso, Yung Buda foi escolhido por seu histórico com a comunidade. Além disso, a LOUD, uma das maiores organizações brasileiras, recentemente anunciou GUXTA como o primeiro músico da tropa, saindo apenas dos eSports e influenciadores de games.
O movimento da LOUD, as escolhas de artistas para os torneios e as parcerias dos próprios times mostram o quão forte o trap e a música em geral vai ao encontro com o eSports. O mercado existe e deve, cada vez mais, ser explorado.
Conteúdo original de Siouxsie Rigueiras para a Betway Inside
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