Em um cenário competitivo em que cada clique, movimento e estratégia importam, a dor tornou-se uma adversária silenciosa para os atletas de eSports. Com o crescimento explosivo dos esportes eletrônicos, uma equipe de pesquisadores composta por profissionais da saúde e do esporte lançou um estudo inovador sobre a dor em atletas profissionais de VALORANT e League of Legends (LoL) no Brasil.
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O estudo, liderado por Vitor Kenji, Lethícia Thiemy, Bianca Goto, Davidson Magalhães, Felipe Augusto, Gabriel Bannwart, Isabelle Christine, Plínio Ikemiya e Yuri Lopes, intitulado “Dor em Atletas Profissionais de eSport: Uma Análise Pioneira de VALORANT e League of Legends no Brasil”, foi publicado pela revista Brazilian Journal of Natural Sciences.
A pesquisa reuniu dados de 95 jogadores profissionais brasileiros de League of Legends (LoL) e VALORANT, destacando a relação entre dores musculoesqueléticas e as especificidades de cada modalidade.
A Pichau Arena por sua vez, teve a oportunidade de conversar com Vitor Kenji, fisioterapeuta de eSports, que falou sobre o artigo científico e compartilhou insights sobre o estudo.
Descobrindo as raízes da dor
Os resultados do estudo revelaram que a dor não está diretamente relacionada à frequência semanal de jogo, DPI do mouse ou até mesmo a forma como os jogadores apoiam os braços para jogar. No entanto, uma descoberta foi a associação da posição horizontal do teclado com uma maior incidência de queixas de dor.
“A dor não tem relação com a frequência semanal de jogo, DPI do mouse, forma como eles apoiam os braços para jogar, tempo diário de jogo, pausas durante o jogo e prática de exercício. A maior parte das respostas de dor na mão do teclado eram de atletas que usavam o teclado na posição horizontal.”
“Comparando com a posição inclinada do teclado, parece que a posição horizontal apresenta mais queixas de dor. O tipo de pegada fingertip parece estar mais associado com dor em ambas as modalidades”
O desafio de mudanças graduais
Kenji ressalta a dificuldade de alterar a ergonomia dos jogadores, enfatizando que mudanças abruptas podem afetar o desempenho em jogo. Nesse sentido, o papel dos fisioterapeutas e professores de educação física torna-se crucial para fortalecer a musculatura envolvida e minimizar os riscos de lesões.
“Antes, muito se falava que o jogador que jogava com sensi e dpi alto correlacionava com dor no punho, devido a movimentar mais o punho para movimentar o mouse, ou se o jogador jogava com sensi e dpi baixo, por fazer o movimento de remada, correlacionava com dor no ombro e cotovelo, e o artigo demonstrou que não tem relação.”
“É muito difícil mudar o jeito do atleta de e-sports joga. Por exemplo, se o atleta está a vida inteira acostumado a jogar com teclado na vertical e o tipo de pegada no mouse fingertip, se ele mudar o jeito, pode afetar no desempenho dele em jogo. Então o papel dos fisioterapeutas e professores de educação física é trabalhar toda a musculatura envolvida para dificultar ao máximo que uma lesão apareça.” completou o profissional.
Um olhar detalhado sobre as horas online
A pesquisa ressalta a falta de correlação entre a prática de streaming e a presença de dor. Kenji falou sobre jogadores que faziam streaming entre 4 a 6 horas por dia relatando pontuações mais altas de dor, sugerindo uma possível relação entre a intensidade do streaming e desconfortos específicos
“A prática de streaming parece não estar relacionada com a presença de dor, pois a maior parte da amostra que relatou sentir dor cronicamente não fazia streaming.”
“Porém comparando a dor localmente no indicador e dedo médio da mão que controla o teclado, fazer streaming entre 4 a 6 horas/dia apresenta maior pontuação de dor em relação aos atletas que não fazem streaming”
Cuidados essenciais
Os resultados destacam a importância das equipes de saúde no gerenciamento da dor e na promoção da saúde geral dos pro-players. Kenji enfatizou as práticas para a prevenção, tratamento e suporte aos atletas de eSports, visando garantir sua longevidade e sucesso na competitiva arena dos esportes eletrônicos.
“A presença de equipes de saúde desempenhar um papel importante na gestão da dor e na saúde geral dos pro-players. Este estudo traz implicações práticas significativas para a prevenção, tratamento e suporte aos atletas de eSport, visando garantir a longevidade e o sucesso desses pro-players “
“A maioria da amostra relatou não sentir dor nos segmentos corporais indicados, sugerindo práticas saudáveis e eficientes adotadas pelos pro-players, organizações e equipe de saúde para minimizar desconfortos musculoesqueléticos. Contudo, para aqueles que sentiram dor, a correlação entre a dor nos dedos da mão esquerda, especialmente nos dedos usados para movimentação e habilidades, destaca a necessidade de atenção específica a esses segmentos.” completou.
Uma jornada de dedicação e sucesso
Kenji expressou sua gratidão à equipe que tornou este projeto possível. Ele destaca a dedicação e o comprometimento de cada membro, enfatizando que sem eles, este artigo não teria sido publicado tão rapidamente. O trabalho conjunto elevou a qualidade desta pesquisa, tornando-a uma conquista para a comunidade de eSports no Brasil.
“A experiência de organizar essa equipe, foi incrível, extraordinária! Testemunhar a dedicação e o compromentimento de cada membro da equipe foi inspirador. A sinergia de todos, eu, Lethícia Thiemy, Bianca Goto, Davidson Magalhães, Felipe Augusto, Gabriel Bannwart, Isabelle Christine, Plínio Ikemiya e Yuri Lopes, foi fundamental para o sucesso desse projeto.”
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“A entrega de cada um, não só acelerou o andamento do artigo, mas elevou a qualidade dessa pesquisa. Gratidão é a palavra que melhor expressa meus sentimentos a essa equipe. Se não fosse por eles, esse artigo não teria sido publicado tão rápido ou até nem ter sido publicado. Estou muito orgulhoso da nossa conquista.”
Em um cenário em constante evolução, este estudo não apenas aborda as dores físicas dos jogadores, mas também sinaliza a importância crescente da saúde e bem-estar dos atletas de eSports. Com a rápida expansão dessa indústria, garantir a longevidade e o sucesso dos pro-players torna-se uma prioridade.